foram um dia crianças,
mas poucas se lembram disso.”
(O Pequeno Príncipe)
Três instituições sociais, cada uma com as suas peculiaridades, suas distinções historicamente desenvolvidas na sociedade. Sintetizar as obras de Freyre e Ariès é perpetuar um enriquecedor conhecimento que ainda hoje emociona, aguça, instiga e reflete características fundamentais dos temas acima propostos.
A infância era desconhecida para o medieval até por volta do século XII. As crianças eram vistas como “adultos-mirins”, vestiam-se com roupas sérias e formais como as de um adulto e, quando bebês, o cueiro era a vestimenta usada. A mortalidade infantil era elevadíssima (a sua sobrevivência era improvável), mas assim que a criança superava esse período, ela se confunde com os adultos. Foram com as mães e as amas que outro sentimento surge: a criança tem graça, é ingênua, gentil e agradável aos adultos – “Paparicação”- acontecia nos primeiros anos de vida, onde os gestos, modos, alguns sons eram “engraçadinhos”. Havia a consciência da inocência e da fraqueza da infância. Com a influência francesa, dá-se pela palavra “bebé” o primeiro nome característico dos recém-nascidos e primeiros tempos de criança.
O que a criança aprendia já era para satisfazer as tarefas que desenvolveriam nos anos decorrentes da vida. Faz-se necessário uma observação: a infância foi a idade privilegiada do século XIX, a adolescência, do século XX e a juventude, a do século XVII. A descoberta da infância foi dada através de três tipos figurativos de crianças: “anjo”, pela influência da religião; o segundo, o “menino Jesus” (maternidade) e o terceiro, a criança “nua” (do despudor à inocência). O “retrato” e a expressão “putto” apareceram no século XV (indicando a morte, o real, o momento da vida) com profundidade.
Foram os moralistas e educadores do século XVII, fundadores de colégios (fim da Idade Média) conseguiram impor seu sentimento grave de uma infância longa graças às instituições escolares e às práticas de educação (orientações e disciplinas). Os jesuítas foram os verdadeiros inovadores, reformadores escolásticos (XV) que com eles surgiram o sentimento de particularidade infantil, o conhecimento da psicologia infantil e a preocupação com o método adaptado a essa psicologia.
As primeiras instituições de ensino foram a da Mesopotâmia e a egípcia. Lá, formavam-se os “Escribas” (hieróglifos – comunicação – contabilidade estatal). A educação clássica surgiu com os gregos e a escola era restrita para os filhos dos governadores; disciplinas ligadas à política e à guerra; exemplo: Academia de Atenas (Platão). Roma acrescentou moral e cívica no currículo heleno. No final da Idade Baixa, o “mestre livre” (autônomo), viria trazer o personagem do “tutor” (profissional moderno) que formaria o nobre e seus filhos. Com a Revolução Francesa, veio a idéia de uma escola gratuita e para os cidadãos. No desenvolvimento da indústria, a escola tem um novo papel, lugar de treinamento do jovem para o mundo do trabalho. O exemplo de primeira escola moderna foi na Escócia, em New Lanarck, que cuidava dos filhos dos operários da fábrica de um industrial. A disciplina escolar teve origem na disciplina eclesiástica ou religiosa. A diferença essencial entre a escola da Idade Média e o colégio dos tempos modernos reside na introdução da disciplina. A partir do século XVIII, a escola única foi substituída pelo ensino duplo: ramo pela educação social – liceu ou colégio para os burgueses (secundário) e a escola para o povo (primário). No fim do século XVIII, há um sincronismo entre a classe de idade moderna e a classe social (meio burguês).
O sentimento de família era desconhecido até a Idade Média e nasceu nos séculos XV e XVI. A família conjugal moderna foi conseqüência da evolução que enfraqueceu a linhagem e as tendências à divisão. A família teve valorização quando se formou com os pais e filhos numa profunda exaltação de emoções. Nos meios mais ricos, a família se confundia com a prosperidade do patrimônio, da honra e do nome. A família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, e quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagens. Um dos fatos mais essenciais da transformação da realidade foi a extensão da freqüência escolar. Com isso, a criança passa mais tempo na escola e a aproximação da família na formação moral se aprofunda. A família do século XVII conservou grande sociabilidade em massa; a família moderna separou-se do mundo e opõe-se à sociedade o grupo solitário dos pais e filhos. Toda a energia é consumida na promoção das crianças.
A “instituição” Família passa por três momentos: direito privado para a transmissão de bens e nomes; função moral que a educação escolar preencheria; e a família moderna com uma afetividade nova, um sentimento moderno (identidade e intimidade).
Freyre, em Casa-Grande e Senzala traz características fundamentais sobre todo o período de escravidão, exploração e violência contra os índios e negros escravos. Relata um Brasil com seus usos e costumes, a família formada sob o regime patriarcal, onde tudo e todos eram chefiados pelo senhor de engenho – mulher, filhos, escravos, comerciantes, padre entre tantos outros.
O índio era nômade, trabalhava para a subsistência. As índias tinham o hábito da higiene (banhos diários, chuva). Com a chegada dos conquistadores e a sua falta de higiene, vieram as doenças. Foram exterminados milhares de nativos e escravos pelas relações sexuais (os europeus “sifilizaram” o Brasil, antes mesmo de “civilizarem”). Os negros africanos trouxeram ao Brasil toda a sua cultura (religião, culinária, arte, profissões), muitas negras já na Casa-Grande serviam aos senhores à mesa e na cama pela submissão que o regime impunha. Além disso, sofriam com os ciúmes das sinhás e os castigos que lhe aplicavam. Os filhos das mucamas serviam de “brinquedinho” de judiaria para os filhos brancos do senhor.
Ficou clara a distinção de culturas entre índios, negros e brancos. A miscigenação arraigou diversos interesses, injustiças e lucro da exploração econômica de inúmeras riquezas nativas numa sociedade patriarcal autoritária da aristocracia feudal.
Referências Bibliográficas:
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala; editora Global
PHILIPPE, Ariès. História Social da Criança e da Família; LTC
www2uol.com.br/historiaviva/multimídia/de_onde_veio_a_escola.html
MANACORDA, Mario Aliguiero. História da Educação – Da Antiguidade aos nossos dias; editora Cortez, 1989
(texto criado por Rosângela Cardoso de Oliveira, estudante do 1º semestre de Pedagogia)
A infância era desconhecida para o medieval até por volta do século XII. As crianças eram vistas como “adultos-mirins”, vestiam-se com roupas sérias e formais como as de um adulto e, quando bebês, o cueiro era a vestimenta usada. A mortalidade infantil era elevadíssima (a sua sobrevivência era improvável), mas assim que a criança superava esse período, ela se confunde com os adultos. Foram com as mães e as amas que outro sentimento surge: a criança tem graça, é ingênua, gentil e agradável aos adultos – “Paparicação”- acontecia nos primeiros anos de vida, onde os gestos, modos, alguns sons eram “engraçadinhos”. Havia a consciência da inocência e da fraqueza da infância. Com a influência francesa, dá-se pela palavra “bebé” o primeiro nome característico dos recém-nascidos e primeiros tempos de criança.
O que a criança aprendia já era para satisfazer as tarefas que desenvolveriam nos anos decorrentes da vida. Faz-se necessário uma observação: a infância foi a idade privilegiada do século XIX, a adolescência, do século XX e a juventude, a do século XVII. A descoberta da infância foi dada através de três tipos figurativos de crianças: “anjo”, pela influência da religião; o segundo, o “menino Jesus” (maternidade) e o terceiro, a criança “nua” (do despudor à inocência). O “retrato” e a expressão “putto” apareceram no século XV (indicando a morte, o real, o momento da vida) com profundidade.
Foram os moralistas e educadores do século XVII, fundadores de colégios (fim da Idade Média) conseguiram impor seu sentimento grave de uma infância longa graças às instituições escolares e às práticas de educação (orientações e disciplinas). Os jesuítas foram os verdadeiros inovadores, reformadores escolásticos (XV) que com eles surgiram o sentimento de particularidade infantil, o conhecimento da psicologia infantil e a preocupação com o método adaptado a essa psicologia.
As primeiras instituições de ensino foram a da Mesopotâmia e a egípcia. Lá, formavam-se os “Escribas” (hieróglifos – comunicação – contabilidade estatal). A educação clássica surgiu com os gregos e a escola era restrita para os filhos dos governadores; disciplinas ligadas à política e à guerra; exemplo: Academia de Atenas (Platão). Roma acrescentou moral e cívica no currículo heleno. No final da Idade Baixa, o “mestre livre” (autônomo), viria trazer o personagem do “tutor” (profissional moderno) que formaria o nobre e seus filhos. Com a Revolução Francesa, veio a idéia de uma escola gratuita e para os cidadãos. No desenvolvimento da indústria, a escola tem um novo papel, lugar de treinamento do jovem para o mundo do trabalho. O exemplo de primeira escola moderna foi na Escócia, em New Lanarck, que cuidava dos filhos dos operários da fábrica de um industrial. A disciplina escolar teve origem na disciplina eclesiástica ou religiosa. A diferença essencial entre a escola da Idade Média e o colégio dos tempos modernos reside na introdução da disciplina. A partir do século XVIII, a escola única foi substituída pelo ensino duplo: ramo pela educação social – liceu ou colégio para os burgueses (secundário) e a escola para o povo (primário). No fim do século XVIII, há um sincronismo entre a classe de idade moderna e a classe social (meio burguês).
O sentimento de família era desconhecido até a Idade Média e nasceu nos séculos XV e XVI. A família conjugal moderna foi conseqüência da evolução que enfraqueceu a linhagem e as tendências à divisão. A família teve valorização quando se formou com os pais e filhos numa profunda exaltação de emoções. Nos meios mais ricos, a família se confundia com a prosperidade do patrimônio, da honra e do nome. A família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, e quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagens. Um dos fatos mais essenciais da transformação da realidade foi a extensão da freqüência escolar. Com isso, a criança passa mais tempo na escola e a aproximação da família na formação moral se aprofunda. A família do século XVII conservou grande sociabilidade em massa; a família moderna separou-se do mundo e opõe-se à sociedade o grupo solitário dos pais e filhos. Toda a energia é consumida na promoção das crianças.
A “instituição” Família passa por três momentos: direito privado para a transmissão de bens e nomes; função moral que a educação escolar preencheria; e a família moderna com uma afetividade nova, um sentimento moderno (identidade e intimidade).
Freyre, em Casa-Grande e Senzala traz características fundamentais sobre todo o período de escravidão, exploração e violência contra os índios e negros escravos. Relata um Brasil com seus usos e costumes, a família formada sob o regime patriarcal, onde tudo e todos eram chefiados pelo senhor de engenho – mulher, filhos, escravos, comerciantes, padre entre tantos outros.
O índio era nômade, trabalhava para a subsistência. As índias tinham o hábito da higiene (banhos diários, chuva). Com a chegada dos conquistadores e a sua falta de higiene, vieram as doenças. Foram exterminados milhares de nativos e escravos pelas relações sexuais (os europeus “sifilizaram” o Brasil, antes mesmo de “civilizarem”). Os negros africanos trouxeram ao Brasil toda a sua cultura (religião, culinária, arte, profissões), muitas negras já na Casa-Grande serviam aos senhores à mesa e na cama pela submissão que o regime impunha. Além disso, sofriam com os ciúmes das sinhás e os castigos que lhe aplicavam. Os filhos das mucamas serviam de “brinquedinho” de judiaria para os filhos brancos do senhor.
Ficou clara a distinção de culturas entre índios, negros e brancos. A miscigenação arraigou diversos interesses, injustiças e lucro da exploração econômica de inúmeras riquezas nativas numa sociedade patriarcal autoritária da aristocracia feudal.
Referências Bibliográficas:
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala; editora Global
PHILIPPE, Ariès. História Social da Criança e da Família; LTC
www2uol.com.br/historiaviva/multimídia/de_onde_veio_a_escola.html
MANACORDA, Mario Aliguiero. História da Educação – Da Antiguidade aos nossos dias; editora Cortez, 1989
(texto criado por Rosângela Cardoso de Oliveira, estudante do 1º semestre de Pedagogia)
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