domingo, 25 de abril de 2010

Do conhecido ao diferente – do eu ao estrangeiro

Do conhecido ao diferente – do eu ao estrangeiro




Ao me deparar matriculada na disciplina História da Educação no Brasil, minha percepção acerca da história da educação no Brasil dividiu-se em dois momentos. O primeiro, que chamo de “pré-aula”, no qual nem por uma fração de segundo eu pensei que veríamos a história contada de outro ponto de vista. Não havia sentimentos ou expectativas acerca desses assuntos. Havia sim, uma sensação de reprodução da versão que vemos nas escolas desde o início – uma versão repetida, vazia, branca, branda, européia e mascarada, tida com certa e única na educação. Uma única história, centrada no passado, sem conexão com o hoje, e que, suavemente explícita, cria no imaginário UM ser que foi, vivia, caçava, plantava... existia.
O segundo momento, iniciado logo após o primeiro encontro, foi inicialmente marcado pelo susto, pelo encontro com o desconhecido e por uma dose cômica – se não triste – de uma ignorância inocente que assola as salas de aula no país.
Trazendo os indígenas para a nossa realidade, não apenas situando-nos no tempo, mas também no espaço, pudemos conhecer, ainda que brevemente, o modo de vida, de educar, de conviver, de percepção, de se relacionar, mais especificamente dos Guarani. Não um modo de ser do passado, mas sim no presente, marcado por uma religiosidade que difere – e convive – com aquela católica ocidental. Uma cultura que entende cada ser como parte da natureza: cada indivíduo não habita a natureza, mas é a natureza. Essa cosmologia xamânica, não vê o mundo de maneiras separadas, dividindo o que é razão da emoção, entre homem e natureza, entre profano e sagrado, intuição, sentimento e ciência – como a nossa sociedade faz desde a infância – mas o percebe em uma totalidade, espiritual, temporal, ecológica, social e religiosa. Ressalta em cada um sua individualidade, porém dentro do coletivo. Possui a oralidade como uma de suas características, e estabelecem uma relação espaço-temporal diferenciada, em que o tempo é vivido intensamente, inclusive o passado, o qual é constantemente repetido e atualizado, criando uma continuidade desse tempo em que se vive.
É dessa forma, dentro dessa visão de mundo, e desse modo de viver o mundo que a educação está inserida. É tida como algo presente em todo o momento, não somente na hora da escola. Há uma educação voltada ao respeito à natureza, aos instintos, à autonomia, à vida, às individualidades. Assim, o centro da educação advém e é a própria vida.
É fácil seguir ou criar estereótipos, aceitar opiniões ao invés de formar uma própria, seguir caminhos já delineados e sem empecilhos. Mas é limitador. Cria uma visão de mundo preconceituosa, única e que presa segregação de vários tipos e de várias maneiras. Como então superar esses limites que existem em nossa sociedade? Como ensinar uma história que não esteja somente no passado? Como criar vínculo com a nossa realidade? Transpondo a barreira da singularidade histórica, superando os limites daquilo que já é dado, conhecido, estereotipado. Ampliar o campo de visão, inclusive da escola, e voltar os olhares àqueles que por muito permaneceram – e ainda permanecem – excluídos do bem-estar social, da visão de sociedade, da construção da história. Esse é o desafio da educação – transpor a barreira do confortável, pisar no desconhecido, aprender com o diferente. Tornar-se estrangeiro.

Débora Lopes Paim (5ª sem)

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