sexta-feira, 30 de abril de 2010

Capítulo 2

A escola surgiu na idade média reservada a um pequeno número de clérigos, e as idades diferentes eram misturadas, dentro de um espírito de liberdade de costumes. Nesse período a sociedade tratava adultos e crianças sem a mínima diferenciação. No início a escola surge como asilo, usado apenas para manter os pobres, pois pobres e camponeses não precisavam aprender letras, e sim o cristianismo. Isso se dá por volta do séc. XIII.

Com o passar dos anos e chegada dos séculos XV a XVII ocorre uma mudança gradativa na visão da criança, e uma conseqüente mudança da escola e seus objetivos.

A escola passa a ser vista como uma forma de isolamento da criança durante seu período de formação moral e intelectual. A idéia era separá-las da sociedade dos adultos e suas imoralidades.

Surge o conceito de infância surge através dessa revolução educacional, que deixa de cuidar da criança com exclusividade apenas nos primeiros anos de vida, nos quais é mais incapaz de se prover sozinha, para preservá-la. Antes a crianças era vista de formas utilitárias, e não era educada, aprendia apenas ofícios.

Há raras referencias às idades dos alunos, pois não havia o conceito da separação de idades. Com a evolução da escola os menores passam a ser separados em virtude de sua maior fragilidade e vulnerabilidade.

A escola catedral, de ensinamentos com inspirações monásticas, exercia o monopólio e era uma escola urbana. Essa hegemonia se vê ameaçada à medida que os burgueses percebem a necessidade de um outro tipo de educação. Isso se dá, pois com o desenvolvimento do comércio surge a necessidade de ler, escrever, calcular. Surgem então professores leigos, nomeados pelas autoridades e que ensinam em locais inusitados, como esquinas, “schola” (sala) ou até mesmo suas casas e/ou celeiros.

A autoridade do mestre e a separação das idades ficavam restritas a escola, voltando a mistura de idades e desorganização na vida social cotidiana.

A primeira idéia de internato como regime de pensão, em que contratos de pensão eram equivalentes a contratos de aprendizagem. Os pais fixavam as condições de pensão de seus filhos, que passavam a viver com os próprios mestres, padres e/ cônegos.

A partir do séc XV, pequenas comunidades democráticas tornaram-se institutos de ensino formados por mais gente, não só bolsistas, mas também administradores e professores submetidos a uma hierarquia autoritária e passou a ser ensinada no local.

Quando a arte passou a ser ensinada nos colégios o modelo das grandes instituições escolares do séc.XV ao XVII passa a ser utilizado. O que completou a transição da escola medieval ao colégio moderno, foi quando os alunos começaram a ser disciplinados.

A evolução da escola deu-se com a separação das idades. Os educadores se inspiraram nas funções monárquicas do séc. XIII, que conservavam os princípios da tradição monástica, porém haviam abandonado a clausura e a reclusão. Durante o período de seus estudos, os estudantes eram submetidos ao modo de vida particular dessas comunidades. Graças a isso, a juventude escolar foi separada do resto da sociedade que continuou fiel à mistura de idades, sexos e condições sociais (séc. XIV). Os educadores preocupavam-se mais com a formação moral de seus alunos.

No início, esse modo de vida passou a ser visto como um meio de garantir a um jovem uma vida honesta. Depois, tornou-se a condição imprescindível de uma boa educação. Em 1452, o colégio tornou-se um instrumento para educação da infância e juventude. Era imposta às crianças uma disciplina estrita: a disciplina tradicional dos colégios, modificada, porém num sentido mais autoritário e mais hierárquico.

No século XV e, principalmente XVI,o colégio abriu-se para mais gente: leigos, nobres, e burgueses, mas também à famílias mais populares. Tornou-se, assim, uma instituição essencial da sociedade; com professores separados, disciplina rigorosa, classes numerosas e ali formariam gerações instruídas do Ancien Régime. O colégio era outro ambiente e teve uma nova concepção, (segundo pais, religiosos e magistrados) e tinha um grupo de idade maciça: determinada de 8/9 anos até mais de 15, e esses eram submetidos a uma lei diferente da que governava os adultos.

No inicio do século XV, começou a divisão da população escolar, dando origem às classes escolares que temos hoje. Eram dividas em grupos de mesma capacidade, dirigidas por um único mestre em um único local.

Essa iniciativa é de origem flamenga e parisiense criando a estrutura de classe escolar moderna, mas com esse processo houve a necessidade de adaptar o ensino do mestre ao nível do aluno. Essa preocupação foi essencial, opondo-se, portanto aos métodos medievais, pois agora há uma preocupação maior para a vida, com a cultura e uma conscientização da particularidade da infância ou da juventude.

No inicio do século XVII a classe não possuía a homogeneidade demográfica. Havia, portanto, uma nova necessidade de análise e divisão, que caracterizou o nascimento da consciência moderna em sua zona mais intelectual, ou seja, na formação pedagógica.

Entre os séculos XVI e início do século XVII as idades dos alunos eram misturadas e, durante o século XVIII, iniciou-se certa repugnância pela precocidade escolar, o que levou a indiferenciação das idades dos jovens. As crianças muito pequenas eram, muitas vezes, excluídas das escolas, o que levou a uma necessidade de serem “criadas” duas infâncias distintas. O motivo pelo qual se retardava a entrada das crianças na escola era a “fraqueza” dos menores.

Apesar de a primeira infância ser isolada, a mistura das idades permaneceu durante os séculos XVII e XVIII, onde crianças e adolescentes freqüentavam as mesmas classes, sem nenhuma distinção. No século XIX os homens mais velhos, de mais de 20 anos, eram separados definitivamente, mas ainda assim, não era estranho adolescentes atrasados permanecerem no colégio. Durante este período, não existiu nenhum sentimento de separatismo além dos 12-13 anos da adolescência ou juventude.

No inicio do século XIX, alguns fatores tal como a necessidade de uma nova pedagogia, resultou em uma maior diferenciação das idades dos alunos nas classes.

Antes do século XV, o estudante não estava submetido a uma hierarquia escolar. Residia perto de uma escola com sua própria família ou morava com outra família de acordo com o contrato de aprendizagem que controlava a freqüência do aluno na escola.

O estudante pertencia a uma sociedade ou a um bando de companheiros, em que uma camaradagem às vezes brutal, porém real regulava sua vida cotidiana, muito mais do que a escola e seu mestre, e, porque essa camaradagem era reconhecida pelo senso comum, ela tinha um valor moral.
A partir da Idade Média, esse sistema de camaradagem encontraria uma ampla oposição, até ser caracterizado como desordem ou anarquia. Sem esse sistema, a juventude escolar seria organizada baseada em novos princípios de comando e hierarquia autoritária.

Desde o século XV os organizadores esclarecidos Gerson e o cardeal d’ Estouteville buscavam difundir uma nova idéia de infância e educação. O cardeal d’Estouteville acreditava que primeiro as crianças não poderiam ser abandonadas a uma liberdade sem limites hierárquicos; e segundo, as crianças pertenciam ao etas infirma que significava uma exigência em relação a disciplina maior e princípios mais restritos. E por fim, os mestres-escolas tinham por função educar tanto quanto instruir. Era um dever deles usar seus poderes de correção e punição.

Duas novas idéias surgem ao mesmo tempo: a noção de fraqueza da criança e o sentimento de responsabilidade do mestre. A partir do século XV é desenvolvido um sistema disciplinar mais rigoroso baseado na vigilância constante, na delação erigida em principio do governo e em instituição e a ampliação ampla de castigos corporais. Nos séculos XV-XVI, o castigo corporal se generalizou em conjunto com uma concepção autoritária da sociedade. A disciplina humilhante usava o chicote que era utilizado a critério do mestre.

Toda a infância, a infância de todas as condições sociais, era submetida ao regime degradante dos plebeus, todos eram igualmente surrados. Houve também uma dilatação da idade escolar submetida ao chicote: Tendia-se, portanto a diminuir as distinções entre a infância e a adolescência, a fazer recuar a adolescência na direção da infância, submetendo-a a uma disciplina idêntica. O castigo corporal provocava uma reprovação de início discreta, mas que se iria ampliar.

Surgiu a idéia de que a infância não era uma idade servil e não merecia ser metodicamente humilhada. Pouco a pouco, tornou-se habitual não mais chicotear os alunos de retórica. Supressão então dos castigos surge por volta de 1763 no Colégio de Sainte-Barbe e Colégio de Louis-le-Grand.

No século XIX surge então uma nova concepção de infância e um relaxamento em relação à disciplina que não mais se ligava ao sentimento de fraqueza e não reconhecia como necessária a humilhação. Tratava-se agora de despertar na criança a responsabilidade do adulto, o sentido de sua dignidade.

No século XVII houve a separação das crianças de 5-7 a 10-11 anos por idade; já no século XVIII as crianças foram separadas pela diferença socio-econômica. Na opinião do autor axiste ligação entre esses fenômenos, visto que foram uma manifestação de uma tendência geral ao enclausuramento, que levava a distinguir o que estava confundido, e a separar o que estava apenas distinguido, uma tendência que resultou na sociedade igualitária moderna.

Durante os séculos XVI e XVII, os estudantes eram associados ao mesmo mundo picaresco dos soldados, criados, mendigos, etc. Não havia muitas distinções entre os escolares e os desonestos em geral. Eram vistos até mesmo como vagabundos, homens sem lei, não civilizados.

Uma nova noção de moral iniciou-se no século XVII. Através da pressão dos educadores, foram separados escolares de boêmios. As crianças escolares viriam a ser as crianças bem educadas. A rudeza e a imoralidade seriam traços das classes mais baixas, dos mendigos, dos moleques, em geral, dos “fora-da-lei”.

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