Maria Luciane Briddi Costa[1]
A leitura do livro Educação Ameríndia: a dança e a escola Guarani[2] possibilitou uma aproximação à cultura indígena, permitindo um melhor entendimento sobre o modo de ser e de viver indígena e a relação disso com a escola ocidental.
Muitos fatos se destacam pela diferenciação marcante da nossa cultura. Entre eles o que mais me chamou a atenção foi em relação à educação infantil e autonomia. Os pais não costumam interferir nas brincadeiras e nas atitudes dos filhos, deixando com que eles próprios descubram os seus limites e as suas possibilidades. Ao nosso primeiro olhar isso pode parecer um descuido, ou uma falta de cuidado. No entanto, na cultura indígena se trata de um cuidado à distância, pois os pais ou os irmãos mais velhos estão sempre por perto orientando, no entanto há um respeito muito forte ao “deixar fazer”, pois acreditam que só assim as crianças se descobrem.
Não existem castigos ou premiações por boas atitudes na cultura indígena, por que segundo eles, isso se dá em função de “julgamentos morais que ocasionam ações visando adequar a pessoa a um comportamento adequado” (MENEZES E BERGAMASCHI, 2009, p.92). Para os indígenas, “a virtude ou a falta dela denota a natureza do ser” (MENEZES E BERGAMASCHI, 2009, p.92).
No entanto, esta não intervenção não tem relação nenhuma com descuido, pois os menores estão sempre aos cuidados dos pais ou dos irmãos maiores, há um acompanhamento constante e é assim que eles aprendem: pelo exemplo e pela palavra, sem julgamentos. Contudo, vale salientar que este exemplo, não se trata de que os adultos sejam perfeitos exemplos e não há uma intenção prévia de realizar certa ação com a intenção de educar. A educação está intrínseca em todas as atividades e m todas as coisas, pois as crianças não aprendem só através do adulto, mas da natureza como um todo, aprendem através dos sentidos.
Assim, o espaço para uma escola ocidental ser inserida nesta cultura se torna restrito. A rigidez com o horário, com a obrigatoriedade dos conteúdos, a importância da escrita, a separação etária, tudo isso é muito distante da cultura indígena onde o tempo da criança é totalmente respeitado, as crianças vão para a escola, quando sentem a necessidade, quando desperta o interesse; os conteúdos desenvolvidos são experiências de vida e fatos indispensáveis para perpetuação da cultura e a escrita não tem relevância, pois tudo isso se dá através da palavra e a escuta tem um papel fundamental.
Então, porque querem a escola? Segundo alguns depoimentos, o papel da escola na aldeia só teria a função de transmitir aos índios o saber dos brancos, que para eles tem ligação direta com o idioma e com a escrita. Para aprender a cultura indígena e o saber desse povo, a escola não teria função alguma. No entanto, a escola se faz necessidade para a conquista da autonomia desse povo, já que quem faz as leis na sociedade são os brancos e para os brancos, tudo gira em torno da escrita, eles sentem essa necessidade de se interarem sobre o idioma e aprenderem a ler e a escrever para que possam opinar sobre as leis que diz respeito ao seu próprio povo e para não serem enganados. Ainda há a necessidade de conhecerem também o dinheiro, visto que o modo de sobrevivência de muitos deles é a venda de artesanatos.
É importante salientar que não se trata de um processo que “branquidade”, que há intenção de apropriação da cultura do outro, mas com uma preocupação de não deixar morrer a sua. É justamente para não ver o seu povo submisso, que os indígenas procuram conhecer a cultura do branco. No entanto, esse é um movimento unilateral, pois não há na sociedade dos brancos esse movimento de procurar conhecer o outro e de respeito à cultura do outro. E esse seria só mais um dos aspectos a serem reconhecidos na cultura deles.
Não quero aqui menosprezar nossa cultura, mas penso que essa posição de absoluta, de auto-suficiente, traz muitas perdas e teríamos muito a aprender com os indígenas – num movimento reverso, bilateral – entre elas a visão de infância, de tempo e de escola.
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[2] MENEZES, Ana Luisa Teixeira de e BERGAMASCHI, Maria Aparecida. – Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2009.
[1] Acadêmica de Pedagogia, UFRGS.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
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