quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

História Social da Criança e da Família

História Social da Criança e da Família

Infância: Ariés mostra o conceito ou a ideia de que se tem da infância, que foi sendo formado ao longo dos séculos, e que durante muito tempo a criança foi vista como um ser adulto em miniatura, que não se desenvolvia e não possuía características e desejos próprios.

O sentimento da infância teria surgido apenas na Modernidade. A criança seria vista como substituível, como um ser produtivo que seria útil para a sociedade, pois a partir dos sete anos de idade era inserida na vida adulta e tornava-se útil e presente na economia familiar, realizava tarefas, igual aos seus pais, acompanhava- os em seus ofícios, e cumpria, então, seu papel perante a sociedade.

Ariés relata a história de que as crianças eram tratadas verdadeiramente como adultos, tinham a mesma maneira de vestir-se e participavam de reuniões e festas. Os adultos falavam coisas impróprias para as crianças, faziam brincadeiras grosseiras e também conversavam sobre vulgaridades. Todo e qualquer tipo de assunto era debatido na frente dos pequenos que, até mesmo participavam de jogos sexuais. Tudo isso ocorria porque não acreditavam que houvesse diferenças nas características entre adultos e crianças.

Primeira idade: de 0 a 7 anos. Chamada de Enfant que significa não-falante, pois nessa a idade a pessoa não fala bem e ainda não forma as palavras claramente, que pode ser analisada também pela palavra Infância, ou seja, do latim “in-fale”, que tem o mesmo significado.

Escola: A escola se tornou no início dos tempos modernos um meio de isolar e separar as crianças (que estavam no período de formação moral e intelectual) dos adultos. Na Idade Média as idades eram misturadas e inseridas num ambiente que não era favorável para aprendizagem.

Crianças e adultos, de 6 a 20 anos ou até mais, eram juntados num mesmo local, aonde havia um mestre que os ensinava. A indiferença pela diferença das idades dentro da sala passava despercebida porque o que importava e estava em vigor era a matéria dada e não a preocupação com a idade das pessoas. As aulas não tinham lugar fixo para serem realizadas, aconteciam nas salas e também em outros lugares, como na rua ou dentro da Igreja. Assim que a criança entrava para a escola, já era passada para o mundo adulto.

Questionamento de Philippe Ariés em relação a negligência com a preocupação da divisão das idades: “Mas como poderia alguém sentir a mistura das idades quando se era tão indiferente à própria idéia de idade?”. Indubitavelmente esse é um traço peculiar da antiga sociedade, ou melhor, de origem medieval – senão persistente enraizado na vida - para o paradigma de que a sociedade de hoje é um reflexo da anterior (ou do princípio).
No século XIII, os colégios eram asilos para estudantes pobres e no início do século XV, o mesmo se tornou instituto de ensino em que uma grande população foi submetida a uma hierarquia autoritária e que ensinava as artes, que foi modelo para as grandes instituições do século XV ao XVII. De uma simples sala de aula para um colégio moderno, sendo instituições que não tratavam apenas a questão do ensino, mas também de vigilância e enquadramento da juventude.

Essa mudança mostrou-se sensível em relação às diferenças das idades. Os alunos mais novos de gramática foram os primeiros a serem distinguidos, que se estendia até os maiores, que eram alunos de lógica e física, e ainda sim os pequenos estudantes não eram distinguidos como adultos.
O colégio sofreu alterações, primeiro ele era um meio de um pelo qual o jovem clérigo conseguiria uma vida honesta, e depois passou a condição imprescindível para uma boa educação, mesmo que fosse leiga.

O colégio, século XV e XVI ampliou-se, abriu-se a um número crescente de leigos, nobres, burgueses e também a famílias mais populares, e virou uma instituição essencial da sociedade: o colégio com um corpo docente separado, com uma disciplina rigorosa, com classes numerosas; constituía um grupo de idade maciço, alunos de oito - nove anos até mais de 15, submetidos a uma lei diferente da que governava os adultos.

No início do século XV, começou a ocorrer a divisão da população em grupos que tinham a mesma capacidade, e mais tarde passou a ter um professor especial para cada um desses grupos.
Do meio para o final do século XVII e século XVIII a política escolar passou a extinguir as crianças muito pequenas, tendo a precocidade de certas infâncias como algo aceitável. “A repugnância pela precocidade marca a primeira brecha aberta na indiferença das idades dos jovens”, implicando em um sentimento novo que distinguia uma primeira infância de uma infância propriamente escolástica. Isto é, as crianças de 10 anos eram mantidas fora do colégio.

Família: Cumpria uma função que era manter a transmissão da vida, dos bens e dos nomes, porém sem muita sensibilidade. Os mitos como, por exemplo, o amor cortês, ignoravam o casamento, enquanto as realidades como a aprendizagem das crianças enfraqueciam os laços afetivos entre os pais e seus filhos.

SÍNTESE

O livro Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre relata o que ocorreu no período colonial do Brasil. Visando a infância, são relatadas as diferenças entre as brancas, que eram mais exigidas, as negras, bastante presas e as indígenas, livres. A criança branca era tratada com certa liberdade enquanto pequena, após precisava tornar-se como adulta, utilizando suas roupas e portando-se seriamente.

As escolas, frequentadas pelos brancos, como informa o historiador Luccock não eram ventiladas, nem grandes, totalmente misturadas, todos realizavam suas atividades juntos, sem distinção de faixa etária. O Bispo Coutinho diz que o sistema escolar era extremamente eclesiástico, às vezes os negros podiam assistir às aulas. O professor era considerado como da alta classe, podendo, se necessário agredir ao aluno sem que isso lhe causasse problemas. Posteriormente, com o crescimento dos colégios, a criança foi humilhada, sofrendo abusos e explorações dentro dos internatos.

Com relação à família, o homem era tido como senhor, todos deveriam lhe obedecer, quem cuidava da criança era a ama-de-leite, uma negra ou mulata, que dava muita atenção a criança branca, sua relação era de mãe, tendo grande vínculo afetivo. A mulher ficava em casa realizando os afazeres domésticos. Havia um grande respeito na família, a intimidade era muito limitada.
Àries, em sua obra História Social da Criança e da Família, diz que no século XVI não se dava muita importância para a fase infantil, nas brincadeiras, trajes e rituais, a criança ficava junto, inserida ao mundo dos mais velhos. Informa também as modificações que essa ideia sofreu ao longo do tempo, que só na Modernidade surgiu o sentimento da infância.

A escola era indiferente a distinção das idades, pois seu objetivo não era a educação da criança. Na família, não se tinha um vínculo afetivo muito significativo, como ela era considerada adulta, a criança não possuía atenções exclusivas.
(Texto criado por Raquel Alves, estudante do 1º semestre do curso de Pedagogia)