terça-feira, 19 de outubro de 2010

Resenha do livro de Philippe Ariès "História Social da Infância e da Família"

1º O SENTIMENTO DA INFÂNCIA

1 As Idades da Vida

Assim que uma criança nasce, passado um tempo, já começa a falar suas primeiras palavras, aprende a dizer seu nome, nome de seus pais e a sua idade. Mas no século XVI ou XVII, as exigências de identidade civil ainda não eram tão impostas desse modo. Achamos normal uma criança responder a sua idade corretamente quando questionada. Acontece que em certos lugares, como por exemplo, na savana africana, a noção de idade não se dá claramente como deveria. Nas civilizações técnicas, isso já se tornou corriqueiro, sabemos que precisamos da data de nascimento, para fazer viagens, votar, preencher formulários, entre outros tantos. A criança logo se tornará Fulano N, da turma X. Depois de adulto, ganhará um número de inscrição juntamente com sua carteira de trabalho, esse número passará a acompanhar seu nome. O cidadão será um número, que começa por seu sexo, seu ano e mês de nascimento. O serviço de identidade pretende chegar à meta de que um dia todos terão seu número de registro, por isso tantas campanhas conduzindo a fazer o registro de nascimento das crianças.
Foi na Idade Média que surgiu o sobrenome, um nome apenas estava muito impreciso, portanto resolveram completar esse nome com outro logo após, que muitas vezes era nome de lugares. Atualmente, a identidade da pessoa é um documento legalmente imensurável e muito preciso em questão numérica. Existem também outros tipos de documentos, como títulos de comércio, letras de câmbio, cheques, testamentos, que não exigem data de nascimento, mas que são importantes da mesma forma.
Acredita-se que somente no século XVIII, os párocos passaram a ter registros exatos como um Estado moderno deve ter, essa importância da idade deu-se a partir dos reformadores religiosos e civis que impuseram isso nas camadas mais ricas da sociedade, as camadas que freqüentavam os colégios.

A idade passou a ganhar uma atenção muito especial desde então. Em retratos do século XVI, já se percebe essa preocupação em ressaltar as idades e as datas das pinturas. Nos retratos de pessoas da corte, isso se dava por ausente, um dos mais antigos exemplo era o admirável retrato de Margaretha Van Eyck,escrito no alto: meu marido me pintou em 17 de junho de 1439, e embaixo, 33 anos. Muitas dessas pinturas formavam quadros. Esses retratos de família funcionavam como documento da própria história familiar, assim como hoje seriam os álbuns de família. Também existiam os diários de família, que serviam para guardar os acontecimentos que haviam ocorrido, como por exemplo, os nascimentos e as mortes. As pessoas naquela época sentiam necessidade de dar á vida familiar uma história. No século XVII, espalhou-se o hábito de gravar uma data em objetos da casa. Na Alsácia, Suíça, Áustria e Europa Central no século XVII ao XIX, os móveis era datados e também vinham com o nome de seus proprietários.
A partir do século XVII, muitas dessas inscrições começaram a desaparecer de quadros, só havia algumas ainda em pintores de província ou provincializantes.

Referente à questão da criança a aprender seu nome e sua idade logo após começar a falar, pode verificar-se, por exemplo, que Sancho Pança não tinha conhecimento exato da idade de sua filha, era apenas algo inexato que descrevia que ela deveria ter uns 15 anos, ou mais, ou menos.
No século XVI, as crianças sabiam sua idade, mas existia um fato muito curioso em si, por questão de boas maneiras, elas eram obrigadas a não falar claramente e responder certas reservas. Thomas Platter,humanista e pedagogo, natural de Valais, relata a história de sua vida com exatidão quando refere-se aonde e quando nasceu. Ele diz que quando se informou da data de seu nascimento, responderam-lhe que ele teria nascido em 1499, no domingo de Qüinquagésima, no momento exato que os sinos chamavam para a missa. Estava aí um misto de rigorosidade e incerteza.

Na Idade Média, os autores faziam uma terminologia puramente verbal: infância e puerilidade, juventude e adolescência, velhice e senilidade, cada uma dessas correspondia a um período distinto da vida. As ‘idades da vida’ ou ‘idades do homem’ equivaliam a noções positivas, conhecidas, repetidas e usuais, que passaram da ciência a experiência comum.
A idade do homem fazia parte de um sistema de descrição e explicação física que voltava aos filósofos jônicos do século VI a.C dos escritos do Império Bizantino e que ainda sugeria os primeiros livros impressos de vulgarização científica no século XVI.

A ciência antigo medieval, em meados do século XVI, era objeto de vulgarização. Le Grand Propriétaire de toute choses é uma grande enciclopédia que abrigava todos os conhecimentos profanos e sacros, que traduzia a unidade essencial da natureza de Deus. Eram vinte livros que tratavam de Deus, de anjos, de elementos, do homem e do seu corpo, e, o último dos livros era consagrado aos números e as medidas. Existia uma ideia que dizia que a unidade fundamental da natureza não se separava das manifestações sobrenaturais. Essa concepção rigorosa pode ser relacionada ao atraso do avanço científico. O ato de conhecer da natureza limitava-se aos estudos das relações por meio de uma mesma causalidade. O simbolismo dos números vinha como uma das chaves da solidariedade profunda, os números eram familiares e estavam nas especulações religiosas, descrições de física, história natural e em práticas mágicas.
As idades da vida se tornaram também uma das formas comuns de conceber a biologia humana, ligada ás correspondências secretas internaturais. Essa noção pertencia ao Império Bizantino, no século VI.

Os textos da Idade Média traziam a ideia de que a primeira idade é a infância que planta os dentes, e essa idade se dá quando a criança nascer e durar até os 7 anos, e tudo que nela nasce é chamo de enfant que significa não-falante, pois nessa idade a pessoa não fala bem e não forma ainda claramente suas palavras. Depois disso, chega a segunda idade, que dura até os 14 anos. Após os 14 anos, vem a adolescência, que segundo Constantino se encerra aos 21 anos, mas, porém segundo Isidoro se estende até os 28 anos. O crescimento podia terminar antes mesmo dos 30, 35 anos, devido ao trabalho precoce que abalava adiantadamente o organismo humano. Até os 45, 50 durava-se a juventude, era assim chamada devida á força que estava no cidadão para ajudar a si mesma e aos outros. Isidoro nomeia de gravidade, a idade da senectude, que estava entre a juventude e a velhice, porque nessa idade a pessoa é grave nos costumes e nas maneiras. Até os 70 anos ou até a morte, dava-se a velhice, a última fase dessas seria chamada de senies, em que o velho está sempre tossindo, escarrando. Um gênero de correspondência sideral havia inspirado uma periodização ligada aos 12 signos do zodíaco, que relacionava as idades da vida com um dos temas populares da Idade Média: as cenas do calendário. A terminologia que hoje nos passa uma impressão tão vazia traduzia noções que na época eram científicas, e correspondia a um sentimento popular e comum da vida. Para o homem de outra época, a vida consistia numa continuidade inevitável, cíclica, e para nós hoje em dia a vida é considerada como um fenômeno biológico, é algo também que não possui nome e que procuramos nomeação.

Em relação à idade dos brinquedos, verificada no século XIV, as crianças brincam com um cavalo de pau, uma boneca, um moinho, ou pássaros amarrados. Logo em seguida, tem a idade da escola, aonde os meninos aprendem a ler ou segurar um livro, e um estojo, e as meninas a fiar. Depois, a idade do amor, das festas, dos passeios de rapazes e moça, as cortes de amor, as bodas e as caçadas. Idade da guerra, dos homens aramados e as idades sedentárias, dos homens da lei, das ciências ou dos estudos. Degraus da idade eram gravuras que retratavam pessoas que mostravam as idades justapostas do nascimento até a morte. A periodização da vida possuía a mesma fixidez que o ciclo da natureza ou a organização da sociedade. A juventude significava força da idade, ‘idade média’, não havia espaço para adolescência. De acordo com um calendário das idades do século XVI, aos 24 anos dá-se a criança forte e virtuosa, do mesmo jeito que acontece quando elas têm 18 anos. Na burguesia do século XVII, a palavra infância restringiu-se a seu sentido moderno, a ideia de infância estava ligada a ideia de puberdade. Ou seja, só se saía da infância quando se saía da puberdade.

Furetiére, no início do século XVIII, complementou o uso do termo enfant, ele disse que esse termo também seria um termo de amizade para saudar ou agradar alguém. A palavra petit também adquiria um sentido especial no final do século XVI: designava todos os alunos das ‘pequenas escolas’, até mesmo os que não eram mais considerados crianças. Com Port-Royal e toda literatura moral e pedagógica, os termos para representar a infância se tornaram numerosos e modernos. Eram usadas expressões do tipo “Eles não vão á missa todos os dias, somente os pequenos, trata-se novas formas, em “pequenas almas”, “pequenos anjos”.Essas expressões anunciavam o sentimento do século do XVIII e do romantismo.

Na língua do século XVI, houve uma ausência de palavras para se referir as crianças pequenas. Por exemplo, em inglês a palavra baby também era usada para crianças grandes, mas, em francês já existiam palavras que serviam para se referir a criança, como poupart. Poupart significava não apenas mais uma criança, mas sim, uma boneca, como até hoje é utilizado pelos franceses. Bambino, marmousets, pequeno frater, cadet populo ,petit peuple, foram algumas palavras também criadas para nomear a infância.

A ambigüidade entre infância e adolescência começara a se formar. No século XVIII, a ideia de adolescência iniciava-se com duas personagens, uma literária, Querubim, e a outra social, conscrito. Em Querubim, era ressaltado que, como se entrava muito cedo na vida social, os traços redondos e cheinhos dos meninos da primeira adolescência, davam-lhes uma aparência feminina, e isso explica o provável disfarce dos homens em mulheres no romance barroco do início do século XVII. Homens sem barbas e que já tinham traços suaves, já não eram mais considerados adolescentes, porque já atuavam como homens feitos, comandando e combatendo. No século XVIII, o adolescente seria imaginado pelo conscrito. Siegfried de Wagner, foi o primeiro adolescente moderno típico, manifestou a mistura de pureza, de força física, de naturismo, de espontaneidade e de alegria de viver, e isso criava o adolescente como herói do nosso século XX. Na Alemanha wagneriana, surgiram os fenômenos da adolescência, e mais tarde chegaria á França, mais ou menos em 1900. A juventude estaria em alta, e com isso, viraria alvo de preocupação de políticos e moralistas. Ela começou a ser pensada como uma forma de reaviver uma sociedade velha, mostrando novos valores. Após a I Guerra Mundial, em 1914, a juventude virou um imenso fenômeno, aonde os combatentes das frentes de batalha se colocaram contra ás velhas gerações de retaguarda. A partir daí, a adolescência cresceria, fazendo com que a infância fosse para trás e maturidade fosse levada para frente. Já tinha os adolescentes casados, que mostrariam seus valores, apetites e costumes. Iniciava-se então uma época em quem a adolescência era tida como a idade favorita.
A velhice, sofria uma evolução inversa. Na sociedade antiga, a velhice começava cedo, os velhos de Moliére, nem eram tão velhos assim e nos pareciam bem mais jovens do que como eram classificados. A velhice dava-se pela perda de cabelo e uso de barba, como por exemplo, o ancião no concerto de Ticiano, que é também uma representação das idades da vida. Na França antiga, a velhice não era respeitada, era considerada como a idade dos livros, do recolhimento, da devoção e da caduquice, nos séculos XVI-XVII a imagem do homem integral era a de um homem jovem, não era propriamente um rapaz na época, mas hoje já poderia ser considerado assim. Hoje, a velhice desapareceu, pelo menos do francês falado, aonde velho tinha um significado pejorativo. A evolução aconteceu em duas etapas: havia o ancião respeitado, aquele ancestral de cabelos de prata, o Nestor que transmitia sábios conselhos, o patriarca de importantes experiências: o ancião de Greuze, Restif de la Bretonne e todo o século XIX. A segunda etapa foi o desaparecimento do ancião, ele foi trocado por “homem de certa idade” e “senhores bem conservados”.

Cada época correspondia uma idade privilegiada e uma periodização particular da vida humana. A idade privilegiada do século XVII era a juventude, do século XIX, a infância, e do século XX, a adolescência. A ausência da adolescência, desprezo da velhice, desaparecimento da velhice e introdução da adolescência manifesta a reação da sociedade diante da duração da vida. Foram retirados do Império Bizantino e da Idade Média, os espaços da vida que haviam sido nomeados, embora não existissem nos costumes. A linguagem moderna usou esses velhos vocábulos para classificar realidades novas: último avatar do tema que durante muito tempo foi familiar e hoje está esquecido, o das “idades da vida”.

3 O Traje das Crianças

Na idade média as crianças eram vestidas indiferentemente de idade, nada na roupa medieval a separava do adulto, era o período do traje longo. No século XVII a criança de boa família passou a não ser mais vestida como os adultos, mais precisamente o menino, pois as meninas do momento em que deixavam os cueiros eram vestidas como mulherzinhas, mas comportava um ornamento singular, duas fitas largas presas ao vestido atrás dos dois ombros. E no século XVI ainda vestiam-se assim as meninas. Nessa ocasião as capas e túnica muitas vezes tinham mangas que podiam se vestir ou deixa-las pendentes.

Enfim, no século XVIII o traje da criança torna-se mais leve, mais folgado, deixasse mais à vontade. De acordo com os costumes, o primeiro traje era o vestido das meninas e depois o vestido comprido com golas, também chamados de jaquette. Nos colégios o vestido por cima das calças justas até o joelhos era utilizado. Essas fitas nas costas havia tornado signos da infância que distinguia as crianças, fosse meninos ou meninas. Últimos restos das falsas mangas. No fim do século XVIII o traje das crianças se transforma e nos subúrbios populares, homens começaram usar traje mais específico, calças compridas, que equivaleriam ao avental. No século XIX o costume de efeminar os meninos só desapareceria após a Primeira Guerra Mundial.

4 Pequena Contribuição à História dos Jogos e Brincadeiras

Para entender de forma mais clara como eram as brincadeiras no início do século XVII são utilizadas informações presentes no diário do médico Heroard sobre o Delfim da França, o futuro Luís XIII. Com um ano e cinco meses o menino toca violino e canta ao mesmo tempo, lembrando que este instrumento não era nobre, também brincava com cavalo de pau, o catavento e o pião. A dança e o canto tinham uma grande importância naquela época e ainda com a mesma idade o menino já jogava malha, isso equivaleria hoje a uma criança praticando golfe. Cerca de cinco meses depois ele começa a aprender a falar, sendo que se ensinava a pronunciar as sílabas separadamente antes de dizer a palavra. Com dois anos e sete meses recebe uma “pequena carruagem cheia de bonecas”, era normal que meninos e meninas partilhassem deste brinquedo; até mesmo os adultos, principalmente mulheres, onde era objeto de satisfação, isso também acontecia com os brinquedos em miniatura que eram monopólio das crianças, não diferente do que é hoje, quando as crianças, e até mesmo adulto em suas coleções possuem objetos como carrinhos, caminhõezinhos, bibelôs. O teatro de marionetes foi uma manifestação da arte popular, era voltado aos adultos, inclusive Guignol era uma personagem do teatro popular, que hoje se tornou o nome do teatro de marionetes reservado as crianças. Na noite de Natal, com três anos e já falando corretamente, o Delfim ganhou uma bola e algumas quinquilharias italianas, como uma pomba mecânica e eram brinquedos destinados tanto a ele quanto a Rainha. Já com quatro a cinco anos já praticava arco, jogava xadrez, jogos de raquetes, rimas, ofícios, mímicas e inúmeros outros de salão. Luís XIII dançava balé e até mesmo danças de meninos de quinze anos. Com sete anos inicia-se o processo de abandono aos brinquedos e começa a aprender a montar a cavalo, a atirar e a caçar, joga jogos de azar e assistia a brigas. No século XVIII figuravam-se festas e ritos, o balanço também surgiu nesse momento. Por volta de 1600, as brincadeiras apareciam apenas na primeira infância, a criança jogava os mesmos jogos e participava das mesmas atividades dos adultos. No fim do século XV, os jogos foram mais voltados à cavalaria, caça e cabra-cega. Na questão das brincadeiras dá-se a entender que os adultos não se preocupavam tanto com o trabalho como hoje é valorizado, a principal importância eram os jogos e os divertimentos. Havia festas sazonais e tradicionais, como a dos Reis, onde a criança tinha um papel ativo na celebração, que no primeiro momento ficava embaixo da mesa e indicava para a quem seriam as fatias do bolo, após carregavam uma vela, preta ou colorida, e no último momento saiam pela vizinhança cantando e tocando, ou seja, se havia o hábito de confiar as crianças uma função especial no cerimonial que acompanhava as reuniões familiares e sociais. Existiam outras festas como a Santos-Inocentes, Terça-feira gorda, onde se faziam brigas de galo e brincadeiras de bola, Carnaval, nesta festividade podiam surrar os judeus e as prostitutas, a não ser que pagassem um tipo de fiança, tamanha barbárie vista nos dias de hoje.

5 Do Despudor à Inocência

Século XVI inicio XVII: A infância era ignorada.
As crianças eram tratadas com liberdades grosseiras e brincadeiras indecentes. Não havia sentimento de respeito e nem se acreditava na inocência delas.
Nos dias de hoje isso nos choca, diferente daquela época, onde era perfeitamente natural.
A pedofilia fazia parte dos costumes daquele período, brincadeiras sexuais entre crianças e adultos.
Elas ouviam e viam tudo que se passava no mundo dos adultos. Acreditavam que se as crianças fossem muito pequenas, esses gestos não teriam conseqüências, pois se neutralizariam, e se fossem maiores esses jogos não seriam feitas com segundas intenções, pois eram apenas brincadeiras.
O uso da mesma cama era hábito comum em todas as camadas sociais, a liberdade de linguagem também era natural naquela época.
Surge na França e na Inglaterra, entre Católicos e Protestantes no fim do século XVI, uma preocupação sobre o respeito da infância. Certos educadores começaram a se preocupar com as linguagens utilizadas em livros; preocupação também com o pudor e cuidados com a castidade.
A grande mudança nos costumes se daria durante o século XVI. Um grande movimento moral refletia com uma vasta literatura pedagógica.
A criança adquire dentro da família importância e torna-se brinquedinho do adulto. Começa a se falar sobre a sua fragilidade, comparando-as com os anjos.
A concepção moral da infância associava a fraqueza com a inocência, pois refletia a pureza divina da criança.
A educação é vista como a obrigação humana mais importante, e começam a multiplicar os colégios, pequenas escolas, casas particulares, desenvolvendo uma disciplina rigorosa, moralidade e mudanças de hábitos.
Essa doutrina desenvolveu alguns princípios:
1°. Não deixar as crianças sozinhas, com uma vigilância contínua.
(As crianças ricas eram confiadas a preceptor).
2ª Evitar mimar, habituá-las cedo à seriedade.
3° Recato, e preocupação com a decência.
Ensinar a ler bons livros, evitar canções populares, comédias, espetáculos, contato com os criados.
4° Evitar tratamentos íntimos, substituir o “Tu” pelo “Vós”.
O sentido da inocência infantil resultou em atitude moral, desenvolvendo o caráter e a razão.
Uma devoção particular passou então a ser dirigida a infância sagrada. O menino Jesus passa a ser representado sozinho (longe da sagrada família).
Há também uma valorização dos trechos do evangelho, onde Jesus está com as criancinhas. Uma nova devoção do anjo da guarda se estabeleceu.
Neste período os pequenos Santos, e as crianças santas, são valorizadas para outras crianças, como modelo a ser seguido.
A 1° comunhão iria se tornar progressivamente a grande festa religiosa da infância. Só seria admitido quem estivesse preparado, tendo um comportamento sério.
Portanto, na sociedade medieval, o sentimento da infância não existia.



2º A VIDA ESCOLÁSTICA

Observando a história da educação no período da Idade Média podemos notar o progresso do sentimento da infância: como a escola e o colégio que se tornaram no início dos tempos modernos um meio de isolar as crianças justamente no período de formação moral e intelectual e, desse modo, separá-las da sociedade dos adultos, finalmente, visto que - na Idade Média - as diferentes idades eram misturadas e lançadas, aliás, a um ambiente inadequado para a aprendizagem.



1 Jovens e Velhos Escolares da Idade Média

Na escola medieval misturavam-se todas as idades - meninos e homens, de seis a 20 anos ou mais - postos a um mesmo local, ensinados por um mesmo mestre. Essa indiferença pela idade era passada despercebida na medida em que era natural um adulto desejoso de aprender misturar-se a um auditório infantil, já que o que estava em vigor era a matéria ensinada e não a preocupação com a idade (fundamental no século XIX). Aliás, a escola medieval não dispunha de um lugar “próprio” para o ensino, fazendo-se satisfeitos dispondo de uma esquina de uma rua. Muitas vezes as aulas eram dadas no claustro, dentro ou na porta de uma igreja. Em geral, o mestre alugava uma sala, forrava o chão com palha para os alunos - velhos e jovens – sentarem-se. Realmente não havia distinção entre a criança e o adulto fazendo, desse modo, com que as pessoas passassem sem transição de uma fase a outra; “assim que ingressava na escola, a criança entrava imediatamente no mundo adulto”.
Fora da escola o mestre não conseguia controlar a vida quotidiana de seus alunos, abandonando-os a si mesmo (ausência de internato). Alguns moravam na própria casa do mestre ou na casa de um padre, mas na maioria das vezes moravam no habitante local, vários em cada quarto, misturando-se novamente as idades, ou seja, os velhos se misturavam com os jovens nas moradias, longe de serem separados por idade, portanto.
Philippe Áries deixa um questionamento sobre a negligência das idades: “Mas como poderia alguém sentir a mistura das idades quando se era tão indiferente à própria idéia de idade?”. Indubitavelmente esse é um traço peculiar da antiga sociedade, ou melhor, de origem medieval – senão persistente, enraizado na vida - para o paradigma de que a sociedade de hoje é um reflexo da anterior (ou do princípio).


2 Uma Instituição Nova: O Colégio

No século XIII, os colégios eram asilos para estudantes pobres (os bolsistas); não se ensinava nos colégios. A partir do século XV o colégio tornou-se instituto de ensino em que uma população numerosa foi submetida a uma hierarquia autoritária e de ensino das artes que serviu de modelo para as grandes instituições do século XV ao XVII. O estabelecimento definitivo de uma regra de disciplina completou a evolução: de simples sala de aula, ao colégio moderno, instituição não apenas de ensino, mas de vigilância e enquadramento da juventude.
Essa evolução mostrou-se sensível ao sentimento das idades. No princípio os menores (os pequenos alunos de gramática foram os primeiros a ser distinguidos estendendo-se até os maiores, alunos de lógica e de física). Porém, essa separação não os atingia como crianças, e sim como estudantes, ou seja, o estudante não era distinguido do adulto, uma vez que fora da escola ele tivesse a obrigação de exercer funções de adulto e, sobretudo, o regime não era realmente infantil/juvenil. (Novamente não se conhecia a natureza nem modelo de tal regime). Nesse regime, desejava-se proteger os estudantes das tentações da vida leiga, proteger sua moralidade. Então, os educadores inspiravam-se no espírito das fundações monásticas do século XIII. Graças ao modo de vida particular “a juventude escolar foi separado do resto da sociedade”.
Mais tarde, o colégio mostrou alterações. No início era um meio de garantir a um jovem clérigo uma vida honesta. A seguir, tornou-se a condição imprescindível de uma boa educação, mesmo leiga. Os mestres tinham a responsabilidade moral tanto de formar como de instruir o estudante e por essa razão convinha impor às crianças uma disciplina rígida, tradicional dos colégios, entretanto mais autoritária e mais hierárquica. Portanto o colégio era o instrumento para a educação da infância e da juventude em geral.
O colégio, século XV e XVI ampliou-se, abriu-se a um número crescente de leigos, nobres, burgueses e também a famílias mais populares. Tornou-se, logo, uma instituição essencial da sociedade: o colégio com um corpo docente separado, com uma disciplina rigorosa, com classes numerosas; constituía um grupo de idade maciço, alunos de oito-nove anos até mais de 15, submetidos a uma lei diferente da que governava os adultos.




3 Origens das Classes Escolares

Desde o início do século XV, começou-se a dividir a população escolar em grupos de mesma capacidade que eram colocados sob a direção de um mesmo mestre. Mais tarde, passou-se a designar um professor especial para cada um desses grupos (na Inglaterra essa formação persistiu até o século XIX). Porém, as classes e professores eram mantidos em um lugar comum. Isso só mudou a partir de uma iniciativa de origem flamenga e parisiense, gerando assim a estrutura moderna de classe escolar. Essa estrutura acentuava a necessidade de adaptar o ensino do mestre ao nível do aluno, o que se opunha tanto aos métodos medievais de simultaneidade ou de repetição, como à pedagogia humanista que não distinguia a criança do homem e confundia a instrução escolar com a cultura. Finalmente indicava – essa distinção das classes – uma conscientização das diferentes fases da vida (infância ou juventude) e do sentimento de que no interior dessas fases existiam várias categorias. Todavia, em princípio, a preocupação de separação das idades só foi reconhecida e afirmada bem mais tarde. Na realidade, prestava-se sempre mais atenção ao grau do que à idade. Portanto, existia uma relação despercebida, por hábito, entre a estruturação das classes e as idades, quase que como uma coincidência.
A nova necessidade de análise e divisão das classes caracteriza o nascimento da consciência moderna: a repugnância em misturar espíritos e, logo, idades muito diferentes.




4 As Idades dos Alunos

Do meio para o final do século XVII e século XVIII a política escolar passou a eliminar as crianças muito pequenas, o que contrapunha os hábitos escolares medievais os quais misturavam as idades, sendo a precocidade de certas infâncias algo aceitável. “A repugnância pela precocidade marca a primeira brecha aberta na indiferença das idades dos jovens”, implicando em um sentimento novo que distinguia uma primeira infância de uma infância propriamente escolástica. Isto é, as crianças de 10 anos eram mantidas fora do colégio. Dessa maneira conseguia separar uma primeira infância (até os 9-10 anos) de uma infância escolar (depois dessa idade). Dizia-se como justificativo do retardamento – retardamento porque até o meio do século XVII aos sete anos a criança já podia entrar na escola - que os pequeninhos eram frágeis, “imbecis”, ou incapazes.
Embora a primeira infância fosse isolada a mistura das idades ainda persistiu até o fim do século XVIII. Ainda no início do século XIX, separavam-se os maiores de 20 anos, mas não era estranha a presença no colégio de adolescentes atrasados. De fato, ainda não se sentia a necessidade de separar a segunda infância da adolescência. Entretanto no fim desse século, graças à burguesia que espalhou o ensino superior/universidade, deu-se a separação. Portanto, pode-se afirmar que, no início do século XIX, com a regularização do ciclo anual das promoções, o hábito de impor a todos os alunos série completa de classes e as necessidades de uma pedagogia nova fez-se a relação, cada vez mais, entre a idade e a classe escolar.


5 Os Progressos da Disciplina

Antes do século XV, o estudante não estava submetido a uma autoridade disciplinar extracorporativa, a uma hierarquia escolar, mas tampouco estava entregue a si mesmo; ou residia perto de uma escola com sua família, ou, na maioria das vezes, morava com outra família à qual havia sido confinado a um contrato de aprendizagem que previa a freqüência a uma escola. Aliás, ele pertencia a uma sociedade ou a um bando de companheiros: tinha que entrar para associações, corporações, confrarias ou o estudante seguia um mais velho e em troca era surrado e explorado. O fato é que uma camaradagem às vezes brutal porém real regulava sua vida cotidiana, muito mais do que a escola e seu mestre, e, porque essa camaradagem era reconhecida pelo senso comum, tinha um valor moral.
Porém a partir do fim da Idade Média, o sistema de camaradagem se deteriora gradativamente, então a juventude escolar seria organizada com base em novos princípios de comando e de hierarquia autoritária, surgem idéias novas da infância e de sua educação: para o Cardeal d’Estouteville, as crianças não podiam ser abandonadas sem perigo a uma liberdade sem limites hierárquicos... os educadores eram responsáveis pelas almas dos alunos perante Deus; seus deveres não consistiam apenas em transmitir, como mais velhos diante de companheiros mais jovens, os elementos de um conhecimento. Eles deviam também formar os espíritos, inculcar virtudes, educar tanto quanto instruir. Duas idéias surgem ao mesmo tempo: a noção da fraqueza da infância e o sentimento da responsabilidade moral dos mestres. Portanto, o sistema disciplinar teria que fugir das raízes da antiga escola medieval, onde o mestre não se interessava pelo comportamento de seus alunos fora da sala de aula. Para definir esse novo sistema, três características: a vigilância constante, a delação erigida em princípios de governo e em instituição, e a aplicação ampla de castigos corporais.
A disciplina humilhante – o chicote e a espionagem – difere-se do modo de associação corporativa de antes, que era o mesmo para todas as idades: jovens e adultos. Entretanto, mesmo com essa substituição de modelo, o castigo corporal não é particular da infância, já que se generalizou ao mesmo tempo em que a concepção autoritária, hierarquizada da sociedade, em suma absolutista. Contudo restou uma diferença entre a disciplina das crianças e dos adultos: fidalgos escapavam do castigo corporal e o modo da aplicação da disciplina contribuía para distinguir as condições sociais. A análise de Ariès também revela que o adolescente, dentro do mundo escolar, era afastado do adulto e confundido com a criança, ou seja, não havia muita distinção entre a infância e a adolescência; jovens de até 20 anos, as vezes até mais também tinham que ser submetido a humilhação do castigo corporal e a uma disciplina idêntica a dos menores, estendendo-se a todas condições sociais. Logo, o sentimento da particularidade da infância, de sua diferença com relação ao mundo dos adultos, começou pelo sentimento de sua fraqueza, que a rebaixava a um nível mais inferior.
No século XVIII era preciso humilhar a infância para distingui-la e melhorá-la, entretanto foi surgindo um sentimento de repugnância, reprovação e então o caráter servil do castigo corporal não era mais reconhecido como adaptado à fraqueza. Surgiu a idéia de que a infância não era uma idade servil e não merecia ser metodicamente humilhada. Triunfa, no século XIX, uma nova concepção da educação, uma nova orientação do sentimento da infância, que não mais se ligava ao sentimento de sua fraqueza e não mais reconhecia a necessidade de sua humilhação. Tratava-se agora do despertar na criança a responsabilidade do adulto, o sentido de sua dignidade. A criança era menos oposta ao adulto do que preparada para a vida adulta.


6 As “Pequenas Escolas”

No século XVII as crianças foram separadas das mais velhas (de 5-7 a 10-11 anos), tanto nas pequenas escolas como nas classes inferiores dos colégios. E, no século XVIII, os ricos foram separados dos pobres, tendo dois tipos de ensinos: uma para o povo, e o outro para as camadas burguesas e aristocráticas. A relação entre esses dois fenômenos é que eles foram a manifestação de uma tendência geral ao enclausuramento, que levava a distinguir o que estava confundindo, e a separar o que estava apenas distinguido. Isso resultou nas sociedades igualitárias modernas que substituía as promiscuidades das antigas hierarquias

7 A Rudeza da Infância Escolar

Foi necessária a pressão dos educadores para separar o escolar do adulto boêmio (ambos herdeiros de um tempo em que a elegância de atitude e de linguagem era reservada ao adulto cortês), já que, nos séculos XVI e XVII, os contemporâneos situavam os escolares no mesmo mundo picaresco dos soldados, criados e mendigos. Uma nova noção moral deveria distinguir a criança escolar, e separá-la: a noção da criança bem educada (século XVII). A criança bem educada seria preservada das rudezas e da imoralidade, que se tornariam traços específicos das camadas populares e dos moleques. Na frança a criança bem educada seria o pequeno-burguês; na Inglaterra, gentleman – tipo social desconhecido antes do século XIX.
Os hábitos das classes do século XIX foram impostos às crianças, primeiramente como conceitos sem os viveram concretamente. Esses hábitos no princípio foram hábitos infantis, os hábitos das crianças bem educadas, antes de se tornarem os hábitos da elite desse século e, pouco a pouco, do homem moderno, qualquer que seja sua condição social. a antiga turbulência medieval hoje é a marca dos meleques, dos desordeiros, últimos herdeiros dos antigos vagabundos, dos mendigos, dos “fora-da-lei”, dos escolares do século XVI e início do século XVII.
*Obs. : Estão faltando duas partes do trabalho do grupo que serão colocadas separadamente

sábado, 16 de outubro de 2010

Resenha do capítulo IV “O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro” do livro “Casa-Grande e Senzala” de Gilberto Freyre


Para Gilberto Freyre, os três principais pilares da colonização portuguesa são a miscigenação, o latifúndio e a escravidão. O livro sociologicamente relata sobre a identidade nacional brasileira, descrevendo a vida colonial como constituinte fundamental para a formação de nação mestiça – português, índio e negro. Há predominância de antagonismos durante todo o relato, como o católico e o herege; a cultura européia e a africana; a africana e a indígena; o jesuíta e o fazendeiro e o principal deles: o senhor e o escravo.
Todo mundo carrega, no corpo ou na alma, alguma marca da influência negra, na música, no andar, nas lembranças com a ama-de-leite, no primeiro amor físico e sensações. Gilberto inicia o capítulo enfatizando a importância da ama-de-leite e o ato de amamentar a criança branca e seus efeitos psicológicos. Esse vínculo causava aproximação e predileção; um exclusivismo mais tarde evidenciado na relação homem – mulher dentro do casamento, como o exemplo do rapaz que conseguia se excitar apenas com o cheiro do “trapo” da sua mucama, antes sua ama-de-leite na infância.
Geograficamente, o litoral agrário foi a região de maior influência africana. E o negro trazendo uma cultura superior à cultura do índio, aquele sendo indivíduo legítimo da escravidão, foi capaz de desenvolver o trabalho agrícola obrigado pelo regime de escravidão. Ao se falar de sociedades primitivas (ex. sudaneses) concordaram melhor para a formação econômica e social do Brasil. Têm predisposição biológica e psíquica para a vida nos trópicos. Os negros têm gosto pelo sol; já os índios reverenciam os dias de chuva (Tupã). Segundo relato de Bates, o negro é adaptável, extrovertido, alegre, vivo. Lembra-se a expressão: “Todo dia é de festa em Salvador”. O índio, introvertido, reservado e desconfiado. Estes foram incapazes para o trabalho agrícola regular, pois eram nômades. Os índios são cerimoniais; os negros, corteses. No Brasil central, os negros fugitivos e índios formaram quilombos (cafuzos) e lá desenvolveram grandes plantações, criação de galinhas, algodão.

A cultura e peso do homem negro e a sua dieta alimentar mais equilibrada dominaram a cozinha brasileira; tornaram-se os verdadeiros donos da terra.
Conforme pesquisa de Leonard Willians, o caráter racial tinha influência pelas glândulas endócrinas. Descrevia a diferença entre asiáticos e europeus; entre latinos e anglo-saxões. As glândulas piruritárias e supra-renais no processo de pigmentação da pele foram estudadas com grande discussão na Biologia e grandes problemas emergiram para as áreas da antropologia e sociologia modernas. Outra série de pesquisadores e cientistas trabalhou no contraste de negros de certas regiões da África com os da Amazônia; na teoria da transmissão dos caracteres adquiridos; Pavlov e Mc Dougall desenvolveram pesquisas com ratos (reflexos condicionados ou não-condicionados); enfim, wesmannianos contra neolamarkianos se enfrentaram na fisiologia e na biologia para “decifrarem” características dos negros. Frank Boas cita outra experiência: tamanho do crânio e também, a quantidade dos pêlos, indagavam que os negros eram descendentes diretos do chimpanzé; mas, os louros australianos...?? E assim, vai se refletindo o preconceito.

Antropólogos revelaram que os negros têm grande memória, intuição, percepção imediatas das coisas... Têm iniciativa, talento para organização, poder de imaginação, aptidão técnico e econômico. É necessário lembrar que estas características são sempre focadas no negro escravo, que sempre foi negligenciado, discriminado e sofreu preconceitos ferozes até hoje ainda presentes na história.
Os africanos vindos para o Brasil eram procedentes da cultura maometana (islamismo), cultura superior à dos índios e à maioria dos colonos brancos (semi ou analfabetos). Estes africanos sabiam ler e escrever, caracteres semelhantes ao árabe. Nas senzalas da Bahia (1835) havia mais gente lendo e escrevendo do que na casa-grande.
A formação brasileira se constituiu da melhor cultura negra da África. Segundo Nina Rodrigues, os sudaneses predominaram na Bahia. Os Cacheo e Bissau ficaram em Pernambuco. As pesquisas sobre imigração são raras, pois Rui Barbosa (ministro no governo provisório) mandou queimar os arquivos da escravidão. A genealogia poderia ter se esclarecido bem melhor. Há também o grupo Banto que imigraram para o Rio de Janeiro e Pernambuco. Basicamente, quatro nações (regimentos) povoaram no Brasil: Creolos (sem medo, malévolos); Minas (bravos, “nagô”); Ardas (fogosos e violentos); Angolas (robustos, nenhum trabalho os cansava – ditos “bantos”). As mulheres negras vindas da Serra Leoa e Guiné eram as mais bonitas e despertaram as paixões nos senhores de engenho. Elas eram excelentes para o serviço doméstico. Mas os escravos de Cabo Verde eram os mais robustos e os mais caros. Cabe ressaltar a dominância da importação negreira pela Holanda.
Os “Fulas” eram negros com mistura de sangue hamítico e árabe. Vieram para as capitanias e províncias, depois, Minas e São Paulo.
Para os Estados Unidos, o critério principal de importação era o agrícola; para o Brasil, a falta de mulheres e a necessidade de técnicos para o trabalho com metal. Os Minas e Fulas foram propícios para a domesticação, “mancebas” caseiras dos brancos. Vieram da África donas-de-casa, técnicos para minas, negros entendidos na criação de gado, indústria pastoril, sacerdotes, mestres, comerciantes de pano e sabão, tiradores de reza maometana.
O Islamismo ramificou-se em seita poderosa nas senzalas. Mestres e pregadores da África ensinavam árabe e liam o Alcorão causando ardor religioso entre os escravos. Ex: “Festa dos Mortos”, em Alagoas – referência muçulmana (jejuns, rezas, abstinências).
A Bahia ficou com uma forte relação comercial com algumas cidades africanas (Ardra), fundou-se na África uma cidade com o nome de Porto Seguro (chefes comerciais receberam distinções honoríficas do governo de Daomé).
Os vestuários das mucamas tiveram influência maometana e o negro vivendo num sistema de monocultura foi “instrumento” de apoio firme da vida colonial, ao contrário do índio, sempre movediço.
Sexualidade dos negros: precisam de estímulos picantes como as danças afrodisíacas, cultos... A negra escrava inicia a vida sexual dos meninos da casa-grande. Vê-se aí, a essência do regime: “Não há escravidão sem depravação”. Interesse econômico: possuir maior número de crias. Já dizia Joaquim Nabuco: “a parte mais produtiva da propriedade escrava é o ventre gerador.” Com isso, a sífilis. Inúmeras mulheres “imundas” com a doença... Impureza do sangue. Dr. Álvarez de Azevedo Macedo: “a inoculação deste vírus em uma mulher púbere é o meio mais seguro de extinguir em si.” Diz-se o fim da sífilis através das negras virgens (1869).
As amas-de-leite: aleitamento materno com atestações e exames de sanidade pelo médico. “A sífilis era chamada de “serpente” criada dentro da casa sem ninguém fazer caso de seu veneno”. As doenças venéreas se propagam mais à vontade com a prostituição doméstica. Era comum e não havia receio. A principal causa das doenças sexuais foi a desordenada paixão sexual; não o calor, que muitos acreditavam ser a causa dos males. No séc. XVIII, em livros estrangeiros, registraram o Brasil como a terra da sífilis por excelência. Os mosteiros são exemplo de devastação...

A condição de escravo vivido pelo negro foi o que determinou a sua “libertinagem”, mas o escravo a serviço do interesse econômico e ociosidade dos senhores. “Riqueza adquirida sem trabalho”. Onde a maioria trabalha e a minoria só manda, há forte ociosidade, permitindo o refinamento erótico. Exemplo da Índia, que o amor mais cultivado é o da maior casta (maior o lazer). A “fome” da mulher de 13/14 anos faz do homem um “Don Juan”. Motivados ainda pelo calor... Malemolência... altera a temperatura do homem.
Sob o critério da história social e econômica, é impossível separar o negro da condição degradante de escravo. Condições que favoreciam o sadismo e o masoquismo (senhores quase sem mulher). Isto é, senhores poderosos, escravos submissos; longas travessias marítimas, contato com países de vida voluptuosa; o oriente com todas as formas de luxúria (Ex. Afonso de Albuquerque – requintes libidinosos).
Outro ponto histórico da escravidão, através das mulheres portuguesas, foi a crença da feitiçaria e magia sexual. Antônia de alcunha Nóbrega, Isabel Rodrigues (Boca-Torta), Maria Gonçalves da alcunha Arde-lhe-o-rabo, foram alguns dos personagens citados no livro que tiveram clientes “curando” a sua impotência ou esterilidade (problemas amorosos). Suas práticas podem ter recebido influência africana, porém, em essência, foi a mais pura expressão satânica do europeu que até hoje se encontra misturada em nós (diversidade de culturas). Além de objetos pessoais, ervas, as “mandingas” eram feitas com animais: sapos, aranhas, corujas, pombo, coelho... Outros elementos como pêlos do sovaco, lágrima, saliva, sangue... Faziam parte dos feitiços. A proteção do recém-nascido: ação da ama africana – cordão umbilical, chave no pescoço, nada de escuridão antes do batismo...
As canções de berço de Portugal modificaram-se com a pronúncia da ama, adaptando-as às condições da região. Palavras como “Saci-Pererê, boitatá, caipora, mula-sem-cabeça, sapo cururu são palavras e expressões que adquiriram formas regionais de colocação lingüística.
As superstições, personagens lendários fizeram parte da infância da criança na casa-grande. Histórias contadas pelas amas como “Quibungo” (monstro terrível), ricaço de Pernambuco com seus negros (meninos no saco), o “Cabeleira” (bandido dos canaviais), nas zonas rurais do sul, um turco que comia menino... Dividiam-se em dois grupos de contadores de histórias: os “Akpalô”, contador de contos; “Arokin”, que contavam crônicas do passado.
Importante citar a obra de José Lins do Rego, “Menino de Engenho”, onde retrata comportamento e linguagens. A linguagem infantil “amolecida” com as amas; o processo de reduplicação da sílaba tônica, exemplo: “dodói”, ficando a pronúncia mais dengosa. No norte do Brasil, a fala se desmancha... mais suave... Caldcleugh, no século XIX, no Brasil afirma que o português brasileiro é menos nasalizado que o de Portugal. E alegou o clima como um dos fatores determinantes dessa lassidão. E os padres-mestres que eram responsáveis pela educação dos meninos, foram contra essa influência, utilizando a palmatória e as famosas varinhas de marmelo para aplicar castigo. Exemplos de pronúncias: “mexê”, “muié”, “oxente”... A língua acabou conquistando duas tendências: pronome antes (Brasil) e depois do verbo (Portugal). Na linguagem, o senhor usava: “faça-me...” e o escravo, mulher, filhos falavam: “me dê”.
Quando a criança deixava o berço, ganhava um escravo do mesmo sexo que o seu e mesma idade; fazia-se desde pequeno escravo, um brinquedo do senhorzinho. O melhor brinquedo dos meninos de engenho era montar a cavalo em carneiros, mas na falta de carneiros, os moleques... “Um barbante serve de rédea e um galho de goiabeira, o chicote. Muitas judiarias contra os negros escravos criancinhas eram realizadas diariamente na casa-grande. O ócio levava à violência que gerava prazer!
Sinhá-moça atiçava os moleques, depois, estes sofriam com a castração e até com a morte. Seduzidos, eram obrigados a satisfazerem desejos da sinhazinha e depois ainda eram “condenados” por seus atos. As sinhazinhas casavam com homens 15, 20 anos mais velhos e pela escolha dos pais. Joaquim Manuel de Macedo retrata a história da sinhá com a mucama onde esta conta, ensina, descreve para aquela, os encantos e mistérios do amor.
Muitas vezes, o incesto fazia parte do contexto da vida colonial. O filho branco com a filha mulata do menino pai. Casamentos de tio com sobrinha, primo com prima eram freqüentes; mas muitos também eram os desentendimentos e guerras que tais condições causavam por motivos de herança, terras, honra, política...

Durante o império, negros e senhores se dividiam entre conservadores e liberais e serviram para contra atacar os índios, lutaram na guerra holandesa e guerra do Paraguai. Foram negros fiéis aos seus senhores; como exemplo o conflito “Montes e Feitosas” no nordeste. Vidal de Negreiros, dos Fernandes Vieira, venceram a guerra contra os holandeses, quase sozinhos e sem o auxílio da metrópole, apenas com os negros e cabras de engenho.
Gilberto Freyre faz um belo relato sobre os encantos que as mucamas despertavam nos senhores. “Penetram no coração do homem antes que ele tenha tempo de se defender.”
Quanto ao cunho religioso, a menina da casa-grande deixava de ser criança na primeira comunhão. Era um grande dia. Um momento de muita tradição religiosa, desde o vestuário até a crença cristã e seus valores moldados.
As mulheres casavam cedo (12, 13, 14 anos) e envelheciam muito rápido também, talvez pelo número de filhos. A menina que chegasse aos 15 anos, solteira, sem pretendente, os pais procuravam ajuda dos santos (promessas para Santo Antônio e São João). É relevante citar a presença de um dos maiores casamenteiros da época: o padre Anchieta, jesuíta (XVI). Ainda hoje, nas zonas rurais, há o folclore do casamento precoce e a virgindade porque só tem gosto colhida verde; depois de certa idade, perdiam a delicadeza e o encanto. As meninas de 12, 13 anos, eram vivas, alegres... As de 15, 16 anos, atingiam a maturidade completa e as meninas com 20 anos ou mais, já entravam na decadência (“gordas ou murchas”).
As mulheres, senhoras casadas principalmente, se vestiam de maneira diferente. Havia uma disparidade entre a vestimenta da casa e das cerimônias. Viviam no ócio; apenas davam ordens e ordens estas dadas aos berros... Gritos... um mau hábito.

Nas festas, danças européias se realizavam na casa-grande; na senzala, o samba africano. Importante momento que trouxe uma aproximação destes dois grupos tão antagônicos.
Começava a doçura da relação dos senhores com os escravos domésticos. A promoção de indivíduos com qualidades físicas e morais que se adequavam aos caprichos e objetivos dos senhores na casa-grande. Desta aproximação, o catolicismo ganhou força. Os negros vindos da Angola eram batizados e aprendiam sobre os deveres (dogmas) e participavam do culto. Os negros sofrerão pressão social e contágio religioso. Para Joaquim Nabuco, os escravos tornados cristãos fazem mais progresso na civilização. Os meninos recebiam da suas amas muita bondade, afagos, sensibilidade e a religiosidade. Então, concedido parte do culto para os negros, fizeram de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, seus patronos da irmandade. A religião certamente foi um ponto de encontro entre o senhor e o escravo. Festas como Reis, Natal e Carnaval aproximaram as duas culturas.

As forças do sistema escravocrata sobre o negro foram a casa-grande, senzala e a igreja. Outras forças como meio físico, qualidade alimentar, a natureza e o sistema de trabalho também contribuíram para que Freyre concluísse que a escravidão era terrível, mas necessária.
No Brasil, raros foram os negros puros. A miscigenação com os brancos resultou um indivíduo mais baixo; ao contrário dos EUA que a maioria sudaneses, foram negros mais altos.
Foi forte a tradição de que quanto mais negra fosse a ama-deleite, melhor ela era. As mucamas, as amas sofriam severos castigos das senhoras por causa do ciúme; os dentes alvos e inteiros das negras causavam furor e raiva.

As crianças que faziam xixi na cama sofriam com o medo e a aplicação de castigos, pois a incontinência representava preguiça e mau hábito.
Aparece aí, a figura “comadre”. “Curadoras” especialmente de doenças ginecológicas. Eram parteiras e benzedeiras. Os remédios caseiros eram feitos de ervas, muitas delas prejudiciais à saúde. Era imensa a mortalidade infantil na casa-grande e na senzala, principalmente pela falta de higiene básica infantil; havia um supersticioso horror ao banho e ao ar. Outros fatores contribuíram para a alta taxa das mortes infantis: comidas fortes, vestuário impróprio, aleitamento mercenário, moléstias contagiosas, falta do tratamento médico, dentição e vermes, umidades das casas (mofo) e diferentes temperaturas. Havia uma causa social e econômica que também prejudicou o desenvolvimento das crianças na época: a falta de educação física, moral e intelectual das mães, e mais, idade dos cônjuges, enfim, uma grande negligência. As doenças mais comuns eram “mal dos 7 dias”, sarampo, lombrigas, comer terra e cal (anemia). Vícios e doenças que não tinham tratamento médico e recebiam apenas castigos e vigilância.

Meninos entre 5 e 10 anos praticavam judiarias, brincadeiras sadistas; maldades provocadas por puro prazer. Visconde de Taunay se lembra da infância como a época que judiava dos moleques. Machado de Assis em sua obra “Memórias póstumas de Brás Cubas, relata também a criança pervertida pelas condições da sua formação entre os escravos – malvadeza e gosto de judiar do negro escravo. Os meninos iniciavam sua vida sexual com animais e algumas frutas (melancia, bananeira), mas foi a mulata que antecipou a vida erótica dos meninos. Tinha-se apreciação de que os meninos desde cedo deflorassem as meninas. Pois, assim, aumentariam o rebanho e o capital paternos. E excitados sexuais ao extremo os senhores davam a ordem e as mulatas submissas, obedeciam... Parte de um sistema de economia patriarcal. Convém relatar que as mulatas tratavam seus meninos com mimos, afagos, muito calor. O excesso de dengo se manifestava na paixão que o senhorzinho ao se casar, precisava do pano com o cheiro da sua mucama para excitar-se na relação com a esposa. Os meninos de engenho se relacionavam mais cedo e adquiriam mais experiência com as mulheres do que os do sertão; assim como os meninos do sul dos EUA mais precoces nas relações do que os do norte americano. Criavam-se garanhões desde pequenos e mulatas para ventres geradores. Os brancos foram o elemento ativo e o negro, elemento passivo. Meninos crianças ainda cresceram armados sempre pronto para enfrentarem surpresas de índios ou animais selvagens. Uma precocidade que os fez participarem das angústias e preocupações da vida adulta. E prazeres sexuais também. A virtude branca apoiando-se na prostituição dos negros.
Resenha criada pelas estudantes: Rosangela, Izabel, Aline, Sandra e Larissa.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"II conversas sobre a(s) África(s)"


Só gostaria de convidar e avisar que o "II conversas sobre a(s) África(s)" ocorrerá amanhã dia 13 de outubro, a partir das 10 horas da manhã, na sala 601 da Faculdade de educação.
O evento foi uma forma de permitir que os estudantes africanos que fazem intercâmbio em nossa universidade não permaneçam invisibilizados pela instituição, bem como um espaço rico de trocas de experiências e de convívio com culturas e valores distintos dos nossos.


Nesse primeiro encontro teremos a presença de Adilson Lopes da Penha, que nos contará um pouco da história de Cabo-verde e de como é a educação nesse país. Aguardamos todas e todos.


Um forte abraço!


Mateus

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Resenha


Resenha: BERGAMASCHI, Maria Aparecida; MENEZES, Ana Luisa Teixeira de. EducaçãoAmeríndia: a dança e a escola guarani. Santa cruz do Sul, RS: EDUNISC, 2009, p. 85-105.

As autoras aborda, neste texto, os aspectos importantes na educação para o povo Guarani,
o respeito às tradições (características da sociedade), as formas de aprendizagem valorizadas por
eles, a importância da oralidade, o modo de vida, o Nhande Reko.
Na cosmologia Guarani, educação não se separa, nem no tempo ou no espaço, das outras
práticas sociais. Esse povo demonstra uma “visão abrangente de educação e a elege como meio
para afirmar a tradição. O povo Guarani apresenta uma visão particular sobre o que significa
educação, para eles, a sociedade funciona como um todo, não se separa a educação das demais
práticas do cotidiano: a escola é o que acontece ao longo de suas vidas. A educação Guarani,
em suas características mais específicas, da para citar a curiosidade como marca fundamental à
aprendizagem. O povo Guarani se mostra aberto a mudanças, mas considera importante que não
se perca a sua forma tradicional de educação. No entanto resistência à educação escolar, pois
temem um saber parcelado, fragmentado, que impõe saberes ocidentais como verdades absolutas.
Eles precisam ter aulas que os estimulem a fazer perguntas. Dessa forma quem tem
curiosidade busca o saber de forma autônoma, a partir de seus interesses. O povo Guarani
principalmente as crianças aprendem pela observação – Eles observam seus pais e especialmente
seus irmãos maiores – os imitando e também fazendo tudo da mesma maneira que eles
observam. A educação tradicional Guarani também traz a oralidade como forma de se dispor
ao ensinamento que é oferecido pelo outro. Para eles a tradição e o respeito à experiência e ao
saber dos mais velhos é a base de toda a vida social e essa tradição é passada e transferida entre
as gerações através da oralidade. O respeito é a característica fundamental presente na educação
Guarani, não apenas respeito aos mais velhos, mas também um respeito a cada pessoa em sua
individualidade, na forma de expressão de si e na busca do conhecimento e dos seus limites.
As crianças lidam com objetos cortantes, facas, mexem com fogo, se arriscam para aprender as crianças aprendem dessa maneira, fazendo, experimentando e tendo “os adultos como
modelos, professores” sempre por perto. O interessante é que os adultos não fazem nenhuma
intervenção ao verem as crianças menores brincarem com objetos perigosos, pois eles acreditam
que cada um evoluíra na medida que for encarando a vida. O povo Guarani valoriza demais a
natureza e a respeita. Eles fazem muitos rituais na natureza, a deixando viver e trazendo cada vez mais vida para aqueles que dependem dela.

Aspectos que caracterizam a educação indígena no Brasil

A educação Indígena no Brasil
Atualmente, as escolas indígenas, na maior parte dos povos que mantêm contato com a
civilização, tem como objetivo central manter os costumes dos índios e ensinar a sua língua junto
com outras matérias.

1 – A oralidade:

Oralidade, conhecimento que é passado aos mais jovens pelos mais velhos, que
se dá no cotidiano. Devido ao respeito pelos mais velhos torna-se algo quase sagrado.

2 – A escola não se dissocia do mundo

Para os povos indígenas o ato de ensinar/aprender não se restringe a uma sala de aula, ou a
um lugar físico qualquer, para eles a observação, a oralidade, a natureza, as pessoas, enfim tudo
que rodeia o indivíduo pode ser fonte de aprendizado sem distinção. Tudo que eles observam eles
aprendem, respeitando sempre seu tempo, eles não precisam e nem tentam avançar seu processo
de aprendizagem.

3 – O respeito aos mais velhos

Para os indígenas, o aprendizado dura a vida toda, e eles acreditam que quanto mais velho
o indivíduo, mais sábio ele se torna. Além disso, as pessoas mais velhas desempenham um papel muito importante na tradição do ensino através da oralidade,pois eles já passaram por tudo e passam suas experiências para os mais novos, assim mantêm sua tradição.
(Kátia Tereseinha Centeno Prudencio)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Reflexõs das alunas sobre a Educação e História Indígena

Aspectos da educação indígena

Vários são os aspectos que caracterizam a educação indígena no Brasil, pretendo evidenciar e explicar alguns que acho relevante ser pensado. Primeiramente sinalizando que a educação que vou tratar aqui não é apenas escolar, mesmo que mostre alguns fatos históricos, referentes à escola.
Desde o período colonial os europeus estavam preocupados em instalar uma moral cristã nos nativos (índios). No século XX com a modernização e consolidação do Estado Nacional, onde a escola passa a ser mais controlada pelo Estado, eles queriam civilizar e territorizar os índios. A partir daí, formalizaram leis que o indígena fosse forçado a se transformar em outro perfil cultural, mudando sua indianidade, mas observou-se que mesmo mudando permanece índio.
Os índios perceberam que a escola seria importante para que eles tivessem “acesso” aos códigos que poderiam garantir seus direitos, já que os não índios estavam lhe submetendo a regras, demarcações e exigindo a participação deles nas questões políticas. Mas mesmo com esse pensamento, ainda hoje muitos povos são resistentes em relação à educação escolar. Para os Guarani, por exemplo, a educação é toda a vida, não fazem a separação educação escolar de educação não escolar, que para os brancos fica evidente, no sentido de pensarmos que a escola é uma das únicas formas de aprendizagem. A escola é para aprender o sistema das sociedades não-indígenas.
A nossa cultura valoriza muito mais os conhecimentos científicos, e acadêmicos, do que a oralidade e os conhecimentos práticos da vida cotidiana, girando tudo em torno da escrita, o que para os índios é pouco difundido. Pelo contrário, eles valorizam e aprendem muito mais com a oralidade, observação, e escuta através de conselhos, ensinamentos e histórias (memórias) dos mais velhos, do que com a escrita.
O respeito também é fundamental na educação indígena, os adultos não repreendam, não castigam, nem exploram as crianças, eles acolhem e observam as características de cada um. Deixam as crianças brincar sozinhas, respeitando a sua individualidade e a forma de expressão, e assim elas vão se descobrindo e se consolidando. Diferentemente da nossa cultura, que trata à criança a maioria das vezes com repressão, dizendo vários “nãos” durante o dia.
Esses foram alguns aspectos importantes que me fez refletir sobre as singularidades da cultura indígena e branca, em relação à educação. Estou começando a valorizar a cultura indígena que para mim era desconhecida.

(Gabriela Golembiewski Passuelo)